Olá a todos;
O “Leitura Capital” surgiu da curiosidade e do estudo da filosofia, em particular do marxismo, por parte dum pequeno grupo de amigos. O primeiro texto lido e que nos inspirou foi «A Cultura Integral do Indivíduo» de Bento de Jesus Caraça.
Contendo a matéria de uma conferência realizada para a inauguração da União Cultural «Mocidade Livre» em 25 de Maio de 1933, época de grave crise económica e grandes transformações na Europa. Na Alemanha subia Hitler ao poder, e no nosso país, em particular, o fascismo foi a resposta encontrada para as contradições que se faziam sentir.
No texto, Bento de Jesus Caraça define dois conceitos: “Grau de Civilização” e “Grau de Cultura“.
Grau de Civilização
Diz ele:
O grau de civilização de um povo mede-se pela quantidade e qualidade dos meios que a sociedade põe à disposição do indivíduo para lhe tornar a existência fácil; pelo grau de desenvolvimento dos seus meios de produção e distribuição; pelo nível de progresso dos seus meios de produção e distribuição; pelo nível de progresso científico e utilização que dele se faz para as relações da vida económica.
À sua época, Bento de Jesus Caraça, matemático de formação, assinalava os progressos que se haviam feito na teoria física – a relatividade e a mecânica quântica -, assim como os avanços na aplicação dos maquinismos, da exploração da energia, das telecomunicações, da organização do trabalho – enfim, da 2ª revolução industrial.
Porém, este esforço de conquista técnica não reverteu a favor da Humanidade, como mostrava a história recente. As guerras (por recursos, por mercados), as depressões (com nomes que parecem saídos da actualidade! – Longa Depressão e Grande Depressão), as próprias respostas políticas aos problemas sentidos não sustentavam que o progresso técnico-científico o fosse igualmente social.
Grau de Cultura
É da necessidade de contextualização histórica e social da aplicação da técnica que Bento de Jesus Caraça formula o conceito de Cultura:
O grau de cultura [duma sociedade] mede-se pelo conceito que ele forma do que seja a vida e da facilidade que ao indivíduo se deve dar para a viver; pelo modo como nele se compreende e proporciona o consumo; pela maneira e fins para que são utilizados os progressos da ciência; pelo modo como entende a organização das relações sociais e pelo lugar que nelas ocupa o homem.
A cultura não é, pois, uma aquisição imediata e determinada pelo grau de civilização. E se, por outras palavras, a consciência não é um mero reflexo das circunstâncias de existência em dado momento, é também factor influenciador da nossa organização social.
Se o desenvolvimento da civilização, entendida como acima, só por si, pode conduzir ao automatismo e à consequente escravização do homem, o que nos é mostrado pela civilização capitalista actual, é isso devido, não a um alto mas sim a um baixo grau de cultura que permite que os meios de progresso sejam utilizados num ambiente de completo abandono dos objectivos superiores da vida.
A questão que Bento de Jesus – premente no seu tempo, tal como no nosso – é a da tomada de consciência pelos povos como sujeitos da história, capazes de ser agentes de mudança e tomar o seu futuro em mãos. É necessário um “despertar da alma colectiva das massas!“.
“Despertar da Alma Colectiva das Massas!“
No entanto, o seu despertar, se falseado, não basta para que estas resolvam suas necessidades. Na década de 30 o poder foi tomado por forças como de Hitler, subjugando as massas, ou no presente – de forma não tão dramática – o seu despertar deu lugar aos motins de França e Grécia, sem que elas tivessem conseguido agir assertivamente para a resolução das suas necessidades.
Os desenvolvimentos técnicos além de terem potenciado o grau de civilização, também potenciam o grau de cultura dos povos. A Internet é um dos melhores exemplos disso. Com a nossa acção, desejamos contribuir para a elevação do Nosso grau de cultura, com o objectivo de colocar o progresso técnico e cientifico em prol de todos nós, da Humanidade.
Mas afinal, o que será um homem culto?
É aquele que:
- Tem consciência da sua posição no cosmos e, em particular, na sociedade a que pertence;
- Tem consciência da sua personalidade e da dignidade que é inerente à existência como ser humano;
- Faz do aperfeiçoamento do seu ser interior a preocupação máxima e fim último da vida.
E assim, que nos próximos despertares se sinta um intenso Cheiro a Revolução!
# Colectivo do Leitura Capital
* citando José Martí
Sem dúvida que o texto do post faz justiça ao seu título.
É que não há qualquer dúvida, sobre isso!… Sobre que de facto a única forma de sermos livres, é sermos cultos, pois só por esse caminho se pode despertar verdadeiramente.
A cultura sempre fez, faz e fará parte do pensamento de esquerda, é intrínseca às mentes despertas e atentas, claramente contrastando com a mesquinhez e as meias verdades da direita, que sempre preferiu alicerçar-se no obscurantismo da “iliteratura” e no facilitismo do pensamento simples, desprovido de conteúdo, mas pleno de ritmos fáceis e acessíveis, confundindo-se facilmente nos mais simples (*), cultura com snobismo e show off.
(*) Entenda-se por mais simples, aqueles que apesar de terem ao seu alcance os meios para o conhecimento da verdade, se recusam a utilizá-los, preferindo o facilitismo provido pela direita reaccionária, como que uma droga para a promoção da letargia intelectual.
Aqui de facto cheira-se a revolução, pois este colectivo, é clara e nitidamente um colectivo de esquerda, da verdadeira e declarada esquerda, da que faz e não da que diz que vai fazer.
Ouss
Concordo com tudo, ser culto é ter consciência das coisas, do nosso local do mundo, a cultura é fundamental e é assim uma questão de consciência!
beijos
companheiros:
a fala do marti é definitiva.
um abraço.
romério
http://romerioromulo.wordpress.com
Bruno,
Como discordar de Bento de Jesús Caraça e da sua interpretação do Comunismo, só através da cultura poderemos alcançar o ideal pelo qual lutamos há quase 100 anos?
Um artigo interessante, esclarecedor, coerênte com a intenção deste blog, bem-vindo!
A revolução é hoje!
Um Homem com ideais abrangentes para a organização e educação da sociedade.
Avançado para a época, mas com uma interrupção “forçada” da sua programação existencial.
Morreu antes do tempo, infelizmente.
Abraço,
Zorze
vai cagar
Belas citações, de Bento de Jesus Caraça, e que grande foi o seu contributo para a cultura portuguesa.
Não terá sido difícil a escolha ma, escolheste muito bem os textos aqui apresentados, eles dizem bem da personalidade e do carácter humanista de Bento de Jesua Caraça.
Maior teria sido a sua dádiva se tivesse vivido mais tempo, e todos tería-mos lucrado com isso.
Obrigado companheiro por esta valiosa postagem.
Tu sózinho não és nada! juntos temos o Mundo na mão!
Um abraço do tamanho do mundo para todos!
Ups…
Gostava de esclarecer algo: o texto foi escrito por mim e pelo Luiz, em conjunto. Mal sei quais as palavras escritas por mim, ou por ele.
Obrigado pelos comentários… muito do que gostariamos de ter falado, ficou por dizer, mas um post não dá para tudo… Fica para uma outra vez.
Pessoalmente, tanto de Bento Jesus Caraça tenho por ler…!
abraço.
[…] “A única forma de sermos livres, é sermos cultos.”² […]
para sermos cultos devemos sim aprender a medir os nossos atos perante a sociedade!
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[…] para muitos se despertarem para esta e outras lutas, as suas e as de outros, e aprendendo a localizarem-se melhor na sociedade em que vivem. Hoje, mesmo quando os seus dias sofrem os contratempos provocados pelas greves de outros, mantêm […]